quarta-feira, agosto 11, 2010

Epifania

Os homens da ciência são poetas da própria solidão e da solidão de todas as coisas (condenados pelo silêncio do Universo - as perguntas sem respostas descansadas). Os homens da ciência têm impacto e nenhuma rima, e por isso as almas são vistas como um balde primitivo de sonhos e sentidos equacionáveis. Ah, meus caros, os homens da ciência sofem, e sofrem duas vezes: por saberem que quando a noite cai a vida será longa e que quando o dia amanhece, cada hora fica tão curta [...]

(conto-lhes um segredo: durante a noite leio versos de poetas mortos que descansam em minha prateleira, só para poder enfim entender, ao amanhecer, que a tal molécula não serve para nada).

E às vezes, durante o labor, cansada em meio a tantos textos de diversas formas e palavras que beiram a neologismos viciosos, que falam muito e falam pouco, pergunto-me impiedosamente:
Por quê é mesmo que eu fui embora de casa?
E de repente sinto todos os receios morais do mundo.

Até que o tédio é corrompido e me invade a doce epifania de que amanhã tem mais, e sempre terá. E isso é um bom motivo para acordar (e, consequentemente, para não dormir também). Tudo fica bem.
Quem sabe os homens da ciência estejam bem.
Quem sabe a luminária fraquinha no canto da mesa nem note a passagem das horas.

2 comentários:

Fer =) disse...

É horrível estar longe, mas lá na frente vai valer a pena manozón... saudades! quero te ver... te aaaamo!

Cafetina disse...

acho que eu sou a que mais te entende, nessa situação... mas acho que o doce não é tão doce sem o amargo. risco os dias no calendário e deposito as moedinhas no cofre todas as noites; só assim consigo dormir.