sábado, abril 28, 2012

Vontade de ir embora

Arrumar a mala e ir pra lugar qualquer
Ou não arrumar mala nenhuma, partir com o trapo do corpo
e o trapo de dentro do corpo.
Arrastar a moléstia para outras pessoas
E adoecê-las com isso ao fim do dia, curando novas memórias.
Pegar uma condução para a estrada do nada,
que não chega a lugar algum,
que apenas arrasta os trapos da alma e assim finge-se ter alma.
Preciso sentar-me no banco do trem
E ver as árvores passarem, assim como passa também a vida
E sentir, ao observar o mundo do meu ponto relativo,
Que as coisas do outro lado da janela se movem
E nada é estático.
Mesmo que tudo isso seja uma mentira,
que todas as coisas continuem no mesmo lugar
E o que mudou é apenas o meu ponto de referência.

quarta-feira, abril 11, 2012

Sentido é não ter sentido

I.
Fecho os olhos. Amo-o e fito-o vagarosamente em meu palco memorial,
Cada detalhe, os traços bêbedos recordando lugares desusados de mim.
Fito-o sem pressa, porque não quero perder nenhum momento,
nenhum sorriso, nenhuma parte sem graça em uma metade qualquer.
E não tenho vergonha de amá-lo assim preguiçosamente,
porque logo que eu abrir os olhos
Ele estará em minha frente, e todos os traços que eu desenhei
Poderei admirá-los ainda sem pressa,
com os olhos vagarosamente dormindo
Perdendo-se nos rumores da malha.

Ao lado dele quero esticar o transcendente e nunca mais perder a textura das mãos
Entrelaçar as mãos e caminhar em vários lugares ao mesmo tempo
E, gaciosamente, exceder os limites do epaço-tempo
Ser feliz por estar ali e não por planejar onde eu deveria estar;
Por existir em plenitude em qualquer ponto tortuoso.

Entrelaçando as mãos quero que as coisas existam e façam sentido
Mesmo sem haver sentido real algum.
Quero que o mundo seja o Mundo e seja belo por isso,
sem precisar recorrer à todas as Leis para ter sentido.
Quero admirar o rio e sentir que ao vê-lo passar
passa também toda a arrogância,
a ignorância dessa moléstia que eu fui em noites terríveis.

Ora, já não busco conhecer profundamente o belo,
mas saber observá-lo onde quer que ele esteja;
Já não procuro, porque está em todo lugar.

II.
Já desamei coisas e sensações outrora. Mas é porque desamarrei.
A vida não tinha sido tão sincera comigo, fitado também os meus traços
Só pra ver o que me cabia melhor.
A vida tinha brincado de me dar vida,
Sete, oito, nove, só para que se pudesse morrer e viver de novo.
Agora talvez eu não tenha mais tantas vidas,
Mas tenho em mim a vontade de ter alguma,
e isso é algo que se constrói e dá lugar aos corpos empilhados do passado.
Não mudei, ainda sou eu. Mas sou eu de um jeito diferente,
Sou eu na realidade e sou eu em alguns sonhos.
Sou um cansaço estranho, mas também uma outra forma de se acordar todos os dias.
É bom e é ruim. Não há paixão sem delinear traços egoístas,
que só existem na vida empilhada que já foi.

Não tenho tido tempo de conversar muito.
Não porque o tempo me falta, mas porque eu faltei ao tempo.
Eu tive pressa, pulei o rio para o lado de nada
E perdi toda a graciosidade de como é atravessá-lo vagarosamente,
sentindo a água límpida amortecendo a minha celeridade.
Cheguei ao mundo onde tudo é alguma coisa,
e por isso nenhuma delas tem alma;
Porque estar vivo é um processo,
de caminhar no meio da estrada de nada,
onde o significado está na textura de dentro
No róseo forte pintado na parede do outro lado da pele,
de amar a tudo o que está em Si porque para isso não inventaram nomes.
Talvez chama-se arte.

(Ah! Naqueles dias engoli o outro lado do rio,
e fui feliz por umas duas horas.
Mas depois, ser feliz custou tempo
E fui infeliz por não ter tido tempo de ser feliz).

O amor não agrega sentido às coisas.
Amar uma única coisa e por isso todas as demais
É injusto com a vida, com toda a Natureza.
O amor simplesmente torna os sentidos aguçados às outras paixões,
Mas no fundo, quem ama um, ama o Universo todo.
E é assim que dois torna-se impiedosamente mais que um.
E a única condição disso é que não tenha condição alguma,
Que não faça sentido em nenhuma sociedade diminuta,
No incrível Sistema osquestrado por ninguém.