Deixei uma perna e esqueci que ainda tinha a outra.
Oras, acabaram-se as desculpas -
terei que mover-me, mesmo que tortuosamente.
Mas hoje poderia esperar o trem sem pressa.
Somente esperar, porque não iria a lugar algum.
E ainda sem pressa, acabaram-se os versos,
e tudo que ficou foi um vento bêbedo em meu ouvido
e um mistério do outro lado da máscara.
Versos íntimos, íntimos versos soam na noite.
Mas, íntimos de quem?
Enquanto os olho discretamente, eles me lêem.
O verso preocupado em entender,
e eu procurando sentí-lo.
Ah, versos não-íntimos!
Deixou o peso do Mundo cair sobre mim;
Dormir? Não. Vou contar as horas para não notar
a passagem delas gozarem o meu senso.
E no fim do verso, eu não sei. Melhor assim.
Pior seria ter certeza. Aí não haveria mais horas pra contar,
Não haveria mais como escandalizar a intimidade dos versos,
Nem poderia rir-me dos burros de carga que carregam
todas aquelas enciclopédias - para que no fim do dia
se possa dizer que sabe das cousas.
A noite passa e eu ainda me amorteço com a temperatura sóbria.
E prossigo na espera pela intimidade dos versos não-íntimos.
Criei um laço para acomodá-los, mas temo que na alma terrível
das letras e dos sentidos,
vire nó .
A loucura é a expressão dos vivos.
quarta-feira, novembro 09, 2011
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Quem sou eu
- F., Manoela
- Uma vírgula entre duas frases. O ponto é o limite que eu ultrapasso [...] Nasci para, incansavelmente, complementar o que já concluí.