sexta-feira, setembro 25, 2009

Procuro ciência e poesia

Ai da minha alma. Estou emburrecendo.
Se me permitirem (e aguentarem), posso passar horas proseando a respeito de aspectos moleculares da ciência. Posso escrever, descrever e transcrever as diminutas características da tal-proteína-que-não-serve-pra-nada. Posso calcular estatísticas, engrandecê-las em gráficos e enfeitar números com toda a significância que estes têm por direito. Posso tagarelar para uma multidão (sem corar a face) sobre teorias, controvérsias e coisas que todos os livros incansavelmente dizem.

Mas não posso escrever. Não posso mais fechar os olhos e deixar os dedos escorregarem para o mundo, entregando as minhas fraquezas e sensações. Não posso mais corar a face e sentir que o sangue está contrastando docemente a minha vergonha. Não posso porque já não sei. Já não sei transformar as minhas euforias e respirações em um conjunto de palavras dinâmicas. Tudo fica como uma tradução literal, e perde-se na primeira tentativa de metáfora. Pergunto-me cem vezes se a crase está no lugar correto, se os neologismos são pertinentes, obviamente porque todos os livros que comprei nos últimos meses ainda repousam na prateleira (empoeirada).
Porque não consigo transformar o silêncio em gráfico, não posso calcular o desvio-padrão das minhas freqüências de gritos, não posso achar a proteína que me faz amar todas as coisas (e odiá-las também). E depois dizem que o amor é ridículo e que todas as cartas de amor são ridículas. Mas isso seria o quê?

Quanto mais eu sei, mais emburreço. Que saudade de quando a minha alma-mente (ainda não distinguiveis) vagavam livremente sem tropeçar nas minúsculas questões que nada compõem. Mesmo que de um jeito amador, os impulsos da minha mente estavam em repouso o bastante para que os pulsos do meu cardíaco pudessem ser ouvidos. Eu pensava com o coração, e sentia com o cérebro. Agora, que sentido tem esse dueto se a recíproca não vale?

Definitivamente, estou emburrecendo. Os mais desprovidos são os que não conseguem ser plenos, os que não conseguem traduzir para si mesmos o que significa cada espectro de coloração nos olhos. Não é preciso talento ou noção de gramática para isso. É preciso apenas Ser - e nada ser.

terça-feira, junho 16, 2009

Poema pela metade

Sonho, vida ou morte?
Nesta modorra mal acabada
tudo é sonho, vida e morte.
Porque ninguém sabe se um mundo
pela metade está vazio ou cheio.
Recordo-me de outra vida
que tudo acaba na hora em que começa-se a conhecer.
Conhece-se pela metade.
Sonha-se pela metade.
Morre-se por inteiro. Que coisa!
Dizem que a vida vaga e sempre pára
no pior lugar da locomotiva
(tem-se que fazer a viagem toda
no pior lugar da locomotiva).
Assim não há sonho que nasça por inteiro;
não há vida que chegue até a estação dos lúcidos
por inteira.
Que pressa!
Não há uma anedota contada fielmente por inteira
(desde a parte em que o riso é esticado educadamente
até aquela em que é possível arrancá-lo dos olhos sem pudor).
Estou cansado.
E a locomotiva lança ao mundo
seus ruídos custosamente murmurados,
carregando vidas que morreram pela metade.
Uma parte cá, exibindo entranhas (mal) coradas
pelo tempo;
Outra maioria lá, perdida em sonhos
que adormeceram preguiçosamente
pela metade.
Não sei.
Outrora me disseram que um poema por inteiro
tagarela sobre o amor.
Mas alguém já amou pela metade?

domingo, março 08, 2009

Extremismo

Gostaria, mas não tenho suspiros a alfabetizar.

Expiro (e indiferentes são as faces destes colóquios que, custosamente, tagarelam com meus cantos tão ociosamente tracejados).

E justifico: Não quero olho nenhum vislumbrando a minha imperfeição.
E desculpo: Tal indolência não se explica pelo romântico devaneio do Ser - o receio de encontrarem em mim mais do que tolero. Apenas assumo, de prontidão, a minha preguiça em devolver a mesma dedicação que me foi lançada (considero um olhar um pouco mais enfeitado, seja destinado ao bem ou ao mal, como uma grande dedicação, a qual eu não me responsabilizo a compartilhar). Não agradeço, nem omito. Meus olhos têm sido dois portais que desmerecem a garganta e o pulmão.

(Mas de onde vem o ódio se não do breve desejo de amar?)
E tendenciono: Antes entregar-se à ira do que ter que desfilar com olhos estéreis, definhados pelo meio-termo paralítico: nem tão doce, nem tão amargo.
E arrisco-me: Prefiro o doce quimérico, o amargo insuportável, à fastidiosa mistura de tudo (ao menos assim mantenho o paladar persuadido).
Entre isso e aquilo, escolho sentir irracionalmente, escolho a plenitude efêmera de todos os extremos.