domingo, julho 15, 2007

Como é bom pensar em nada!

Como é bom pensar em nada! Como é bom em nada pensar! Se em nada penso.. então, estou pensando? Vejas! Há muito mais nisso do que a vã sabedoria do saber. O que eu sei de saber? O que o saber sabe de mim? E se ele nada sabe, então o que sei eu?
Ah! Como é bom pensar em nada. O sol é sol, as flores são flores, pela primeira vez, tudo é, e não me vem mais aquela idéia de que tudo pode vir a ser! O sol aquece, eu sinto. As flores colorem, eu vejo! Da onde vieram, o porquê vieram, que importa, se eu sinto e vejo? De não pensar é que eu sei. Se pensasse, estaria querendo saber o que eu não sei! Nada saberia, nada importaria, porque apesar de todos os saberes de todas as ciências, eu nunca saberei. E sempre restaria um vazio nas cores das pétalas, sempre haveria uma interrogação no brilho do sol. Sempre as sombras do inexistente, sempre o insignificante que toma forma, e por nossa própria ignorância do saber, passa a existir, substituindo tudo o que realmente é, tudo o que realmente existe antes do mundo ser mundo. E se não era mundo, não quero saber! Porque estaria vendo o mistério, o mistério de nada, que se esvai pela estrada de nada e em nada morre. Quero a cor mais intensa, quero o calor mais ardente. Quero isso, porque isso existe, porque eu vejo e sinto. Qual a graça de todos os mistérios do cosmos e do vácuo se não sentirmos nem o cosmos nem o vácuo? Que graça têm as duzentas, oitocentas, bilhões de estrelas se esforçando no céu pra serem vistas, se a única pergunta que resta é "da onde vieram?". Eu vejo as estrelas, eu sinto as estrelas, elas existem, mesmo que a luz que chega aos meus olhos seja relíquia do que não há mais nos céus.
Eu vim de um útero enrugado, saí por um orifício envolto por pêlos diversos, ser verde beirando ao roxo, vomitando pelas entranhas líquidos das mais diversas origens. Certamente, se eu contar de onde vim pras estrelas, elas deixarão de brilhar pra mim, porque serei eu, hoje pele rosada e sorriso enfileirado, serei eu ainda fruto do útero enrugado pendurada numa tripa umbilical. Que graça terei? Depois disso, ao lembrar de mim, as estrelas da sabedoria imaginariam um feto mal corado, chorando as dores do mundo. Quero as estrelas como são, quero as pétalas como estão, e o sol como o sol de hoje. Quero ser, quero existir, porque é neste hoje que estamos ou não. Quero pensar em nada e em nada permanecer com plenitude. Quero saber de nada, questionar nada, duvidar de nada, e por isso saber de tudo, e por isso ser, e por isso serem.
Quero cerrar os olhos e sentir, quero ver o que vejo, quero ser sem filosofias, quero ser, quero que as coisas sejam, e mais nada.