terça-feira, julho 18, 2006

Surrealismo e iluminação - o humanismo da modernidade!

Falar sem a expectativa de leitores é um tanto quanto desinspirador.
Talvez minhas palavras surreais encham uma ou outra garota de sonhos, que lêem discretamente. Ou aquela senhora de chapéus velhos, que procurou por 'jones' no google e achou meus escritos. Talvez tenha espectadores no mundo todo que tentam entender o que é essa imaginação.
Não. Não é nada disso.
A minha maior leitora sou eu mesma.
Escrevo pra mim, mesmo que para os outros olhos pareçam simplesmente um conjunto desconexo de letras jorradas no vácuo.
Nunca neguei ser surreal. Ver o sol e imaginar vários elementos num cenário, o meu cenário, talvez louco. Olhar o prata da lua e traçar caminhos do tipo "Alice no país das maravilhas" em minha caixa cerebral. E então, no fim da noite, juntar todos esses artistas em um só protagonista: a arte da iluminação.
A iluminação significa chegar a um nível acima do pensamento, e não em ficar abaixo dele, ao nível de um animal ou de uma planta. No estado iluminado, continuamos a usar nossas mentes quando necessário, mas de um modo mais focalizado e eficiente. Assim, ultilizando o a massa cerebral com objetivos práticos, não ouvimos mais o diálogo interno involuntário e sentimos uma enorme serenidade interior. Quando usamos de fato nossas mentes e, em especial, quando necessitamos de uma solução criativa, há uma oscilação, de segundos, entre o pensamento e a serenidade, entre a mente e a mente vazia. O estado de mente vazia é a consciência sem o pensamento. Só assim é possível pensar criativamente, porque somente desse modo o pensamento tem alguma força real. Ele sozinho, quando não mais conectado com a área da consciência, que é muito mais ampla, rapidamente se torna árido, doentio e destrutivo.
O filósofo Descartes acreditava ter alcançado a verdade mais fundamental quando proferiu sua conhecida máxima: "Penso, logo existo". Cometeu, no entanto, um erro básico ao equiparar o pensar ao Ser e a identidade ao pensamento. O pensador compulsivo, ou seja, quase todas as pessoas, vive em um estado de aparente isolamento, em um mundo povoado de conflitos e problemas. Um mundo que reflete a fragmentação da mente em uma escala cada vez maior. A iluminação é um estado de plenitude, de estar "em unidade" e, portanto, em paz. Em unidade tanto com o universo quanto com o eu interior mais profundo, ou seja, o Ser. A iluminação é o fim não só do sofrimento e dos conflitos internos e externos permanentes, mas também da aterrorizante escravidão do pensamento.
Que maravilhosa libertação!
Enfim, eu entendo por iluminação "conhecer a si próprio".
E é por isso que eu escrevo pra mim mesma.

"... o surrealismo é um movimento de liberação total, não uma escola poética. Via de reconquista da linguagem inocente e renovação do pacto primordial, a poesia é a escritura de fundação do homem. O surrealismo é revolucionário porque é uma volta ao princípio do princípio."

Não é inocência. Mas um resgate dela.
Pensar não é criar uma bomba atômica ou resolver palavras cruzadas. Se for usada corretamente, a mente é um instrumento magnífico. Entretanto, ao usar de forma errada, ela se torna manipuladora e destrutiva. Para maior precisão, não é você que usa sua mente de forma errada. Em geral, você simplesmente não a usa. É ela que usa você. Essa é a sua doença. Você acredita que é a sua mente. Eis aí o delírio.

O instrumento se apossou de você.

A liberdade plena não existe, porque estamos presos a nós mesmos e ao mundo. Mas o precesso da busca é a maior aroximação do real. O cérebro como uma máquina engenhosa, em que "quando você usa uma vez jamais retorna ao seu tamanho original". (desfecho de aurtoria conhecida - aquele mais admirado na história por pensar).

quarta-feira, julho 05, 2006

Andróide Paranóico

Doente. Mas não hipocondríaca.
Dormente. Mas não fraca.
Cansada. Mas não desistente.
Não um andróide.
Não um andróide.
Não um andróide.
Os caminhos levam pra dança das auréolas celestiais, contrapondo-se aos pés, que sentem os grãos da terra um a um. A alma flutua, a a matéria preenche espaço.
Mas quem diria que, na festa dos mortais, seria a minha vez de empilhar o ritmo?
Se estivesse hipocondríaca, as pílulas dissolveriam com o ar de cima.
Se estivesse fraca, não teria forças pra flutuar a minha alma.
Se desistisse, aí sim, se desistisse meus pés sentiriam o vento gélido e a alma, a umidade da terra.
Talvez uma mola comprimida que espera pra volumizar-se.
E enquanto está quietinha, pequenininha, ouvindo o barulho do próprio potencial elástico, é a hora que vale mais sua existência. Porque quando lançada ao mundo, transformará o que guarda na própria essência em movimentos visíveis, uma cinética efêmera.
Em forma de grão, não germinamos na estação que nos determinam. Em forma de mudas, temos que fixar-nos na terra pela própria manutenção da existência. Os grãos podem voar, os pequenininhos grãos flutuam por cá e por lá. As mudas ficam na mesma plantação, porque um dia foi germinada com o sol artificial da estufa.
Talvez a diminuta forma não seja sinônimo de carência de personalidade.
Ninguém sabe se o grão do feijãozinho está pronto pra nascer se não existisse as cores. E se me permite fazer uso figurativo do camaleão, as cores de nada servem para os olhos dos outros. As cores podem determinar a germinação da vida e podem acusar a hora de partir.
A palidez e o róseo.
O cinzento e o vivo.
Mas nunca o preto e o branco. O preto não é mais preto do que o branco, tão pouco o branco é mais branco que o preto. O contraste é um conjunto, um conjunto que impede o discernimento.
Relances cinzas, beirando ao preto, beirando ao branco, nada informam, nada solucionam.
O camaleão sabe a cor que deve expressar. Mas de nada adianta tentar pré-conceituar, porque a folha que contrastará com ele e permitirá o mimetismo ora pode estar preta, ora pode estar branca, talvez ambas, e se na primavera, pode estar multicolor. A vida então seria um jogo de vaivéns do xadrês, em que as peças movem-se , alternando entre os quadrados, do preto ao branco, como se esse quadrado fosse construído pelas nossas mãos e tudo fosse determiado. Como se fosse possível prever a próxima jogada, a próxima cor, e sacrificar peças pra jamais estar no pardo. É tudo tão diferente.
O que eu quero dizer é que achamos que talvez a essência esteja nas cores, porque é a expressão externa da vida, ou da morte, do início e do fim.
Mas de nada adianta, porque o colorido brilha ou cinzenta-se de acordo com expressão da alma de quem vê, de quem sente. A essência não é prejulgada, simplesmente porque cada garganta, cada olho e peito tem suas peculiaridades. Cada riso, cada lágrima, carregam em si forças e manifestações relativas, únicas.
A verdade das coisas é indecifrável.
Para tal, 'conheça-te a si mesmo' - a velha frase do sábio.
Pois só assim haverá discernimento entre um dia pardo e um dia intenso. Entre a noite enluarada, e a noite escura.
De um modo geral, convenhamos, só assim haverá discernimento entre a vida e a existência.

Nunca um andróide.

sábado, julho 01, 2006

O assassinato da quimera

Hoje vi alguém se suicidando.
Não por adormecer a matéria, e sim por estrangular os sonhos.
A vida escondida no mundo externo.
Voltar-se para fora e esquecer das vísceras.
E quem mata os sonhos, assina o suicídio.

Escrevi sobre isso.



O assassinato da quimera

As fúnebres lágrimas de sal
Varrem as reentrâncias da minha face
Como a sutil penumbra do roseiral
Morte que morre e que nasce

Filho da virgem, peito coberto
Ah! Outrora sonhei e perdi
As luzes das sombras adormecem perto
Nesse sepulcro em que renasci

O grito se espande pela pátria amada
Do outro lado do rio vejo a cruz
Levantai as mãos e reviva a espada!
Cravando carne a carne dos meus sonhos nus

Paralisia - e o buraco abre-se no mar
São anjos, são doces, asfixias dos céus
Que do cardíaco faz-se pronunciar
Serpentes nos cansados sopros do adeus

Sonho, vida ou morte
Dos punhos florescem chagas na estaca
Sou cadáver desenhando o mundo
Sou o pequeno decompositor que adormece e cala

Gota a gota minhas pálpebras cerram
Ai, plebéios sonhos meus!
Descansem eternos nesse túmulo
Enterro a vida nos cavados olhos teus.





A vida não está em outros olhos que não seja os nossos próprios.
pra essa pessoa: [a capacidade de sonhar é a vontade de viver].