sexta-feira, agosto 11, 2006

Bonecos de osso, carne de plástico

A simplicidade do meu mundo está me conquistando. Sempre olhei pras coisas como se elas fossem as mais distantes, inalcançáveis e tendessem para um ciclo final. É como não dar corda na boneca por saber que numa hora, ali depois de alguns passos, ela vai parar e precisar de um outro impulso externo pra ir em frente. Assim que vivemos. Eu entendi que a morte traz a vida muito mais do que esta traz aquela. Todos nós temos que entender que a felicidade é o processo. É como ter uma pedra com luminosidade verde forte no alto da montanha mais perigosa. Tentar subir até lá é arriscado. Muitos param no primeiro passo, e apenas coexistem. Outros tentam subir, mas ficam tão obcecados em atingir o topo que esquecem de se aprazeirar com o presente, ou seja, a busca. Quanto mais subimos, mais a pedra vai afastando. Porque nossos sonhos aumentam, as exigências também. E uma coisa é certa: jamais chegaremos lá. Mas isso não é um ponto negativo, amigos. Vejo a maior condição de vida que nos foi dada. Porque a felicidade é apreciar o processo de ser feliz, mesmo que nunca possamos sentar e dizer "estou com a pedra nas mãos, agora é só guardar no bolso e descansar". Senão aí sim a vida teria um começo, meio e fim. E o sentido dela seria pegar a pedra ou não.
Mas é muito mais que isso. A inteligência não é apenas estudar com calma os caminhos, os atalhos, as dificuldades do relevo. É bem mais emocional.
Nunca me considerei uma pessoa com inteligência emocional, porque nunca soube me disvincular do passado e deixar de almejar o futuro pra contemplar o presente. Ou vivemos da nostalgia, ou dos nossos sonhos. Mas nunca do chão em que estamos pisando. Sempre busquei alto, "um dia..." (e isso é confortante, não é mesmo? O quê seria de nós se não existisse esse 'um dia..'?). Mas enfim, aprendi a ter paciência, a respirar e a viver meu presente sem planejar a vida ou relembrar o que não vivo mais.
É incrível como temos que rolar montanha abaixo pra saber como subir. A princípio vamos correndo, eufóricos, sem guadar forças pra trilha mais difícil. E despencamos. Ainda bem. Senão seria tudo tão fácil que eu preferiria ficar tomando chá nas dunas ali embaixo.
Uma coisa é certa. A partir do momento que aprendemos a apreciar o presente e manter a mente no presente, conseguimos chegar o mais perto do que chamam de felicidade. A nostalgia traz angústia e o futuro, medo. Para o presente, não precisamops matar o tempo nem encolhê-lo, não precisamos deixar de solucionar ou esperar, só basta.. viver.
A nossa maior virtude é não sermos felizes.
Senão sentaríamos na grama, e depois de meia hora a pedra tocável já perderia a graça, tornaria-se sem cor, e a vida ficaria sem sentido. Quando está no auge dos nossos sonhos, tudo fica tão especial. Nada é melhor do que uma conquista. E nada é mais estimulante do que um fracasso.
Não é viver pra morrer.
Não é morrer sem viver.

É como se fôssemos bonecos gigantes esperando que dêem corda para andarmos e tocarmos aquela musiquinha. Uma vez que aprendemos a fazer isso com o próprio peito, deixamos de esperar que nos dêem corda no futuro ou relembrar o quanto andamos no passado.

No nosso caso, vi que é necessário morrer pra viver.