segunda-feira, junho 19, 2006

Fibra de ferro?

Se tempos dedico palavras ao dia, o antagônico vale. A noite é preciosa. Não como tocáveis matérias brilhantes. Mas como luminosas estrelas no céu. Esses dias foram um dos melhores da minha vida. Deitar no verde, inspirar o ar fresco da noite, expirar o urbanismo caótico. O céu, como uma lona gigante perfurada ponta a ponta. Manchas de explosões luminosas, como é bonito! Acho que depois desse cenário deixei todas as palpitações do cardíaco em um só ponto - anos-luz da minha agonia. E o rio! Ah, o rio! Oceano doce. Como é vital sentir o vento forte, enquanto ouve-se o barulho das águas, o ruído dos bichos, e vê-se a lua estrelada. Pode parecer um cenário bastante comum pra quem quer procurar paz. É fechar os olhos, e mentalizar. Mas não é a mesma coisa. Não é comum. Ninguém faz isso, porque ninguém sabe como é especial sentir vida. Não aquela que eu recebo atrás de uma tela computadorizada, que eu sinto com os pés no cimento e o barulho dos carros como orquestra musical. Não é aquela vida que sinto todos os dias quando os raios do sol, refracionados por todas as construções urbanas, chegam até a minha janela sem brilho. Não quero acordar com uma chuvinha e o cheiro de enxofre. Eu simplesmente cansei de viver como um robô.
Tempos modernos, tecnologia, modernização, "avanço". O produto mais valorizado que o homem. A festa do fetichismo da mercadoria. Vivemos pra produzir, como uma seleção natural, *os menos depressivos - produzam, os mais, acabem-se. Os menos depressivos, acabem-se. Os mais depressivos, produzam. Um ciclo intermninável. E no meio de toda essa fumaça tóxica, esquecemos que a maior demonstração dos nossos acestrais humanos (refiro assim porque hoje somos mais máquinas que humanos), está a 90 graus do ângulo da visão, curvando para cima! ou a 180º, curvando para o lado que se encontra o verde mais intenso.
Somos pequenos, mas não por ter que se encaixar nesse sistema de mercantilismo humano. Mas sim por ter a adaptação nas veias e se esquecer disso. O ferro não substitui fibras. Eletrecidade não é sangue. Peito não é bateria.
Não reclamo da minha forma urbana de viver. Tento, sim, ser sempre um produto de uma 'seleção social' positiva. Não digo que quero me isentar dos meus sonhos empíricos. Mas acrescento isso com vida, que não encontro no ferro velho.
Se as lágrimas denunciam a prova da minha veracidade, derramei profundezas naquela noite.
Mas não liberando as cóleras da minha ânsia. Simplesmente renovando a humanidade do meu peito.
Eu digo, o mundo não surgiu pra ser esquecido.
Esqueçam, e sintam o mar vermelho se abrindo. Entre o sangue, nao está a viscosidade que pulsa, é o vácuo que rasga.