terça-feira, junho 16, 2009

Poema pela metade

Sonho, vida ou morte?
Nesta modorra mal acabada
tudo é sonho, vida e morte.
Porque ninguém sabe se um mundo
pela metade está vazio ou cheio.
Recordo-me de outra vida
que tudo acaba na hora em que começa-se a conhecer.
Conhece-se pela metade.
Sonha-se pela metade.
Morre-se por inteiro. Que coisa!
Dizem que a vida vaga e sempre pára
no pior lugar da locomotiva
(tem-se que fazer a viagem toda
no pior lugar da locomotiva).
Assim não há sonho que nasça por inteiro;
não há vida que chegue até a estação dos lúcidos
por inteira.
Que pressa!
Não há uma anedota contada fielmente por inteira
(desde a parte em que o riso é esticado educadamente
até aquela em que é possível arrancá-lo dos olhos sem pudor).
Estou cansado.
E a locomotiva lança ao mundo
seus ruídos custosamente murmurados,
carregando vidas que morreram pela metade.
Uma parte cá, exibindo entranhas (mal) coradas
pelo tempo;
Outra maioria lá, perdida em sonhos
que adormeceram preguiçosamente
pela metade.
Não sei.
Outrora me disseram que um poema por inteiro
tagarela sobre o amor.
Mas alguém já amou pela metade?