quarta-feira, abril 11, 2007

Tititi

Queria que as palavras soassem livremente do meu âmago, queria poder ter a disposição de pensar e ser construtiva. Pensar já dói, na verdade bom seria contar a vocês sobre o Joãozinho, sobre o final da novela, o meu tênis novo. É o que procuramos, é o que eu vejo todos os dias entre os dois olhos de cada um. Não me livro dessa, sou parte do circo. Apenas minha forma de 'titizar' é um pouco diferente. E é isso que estou fazendo. Mas não assisto novela, meu tênis está um trapo, o Joãozinho não existe. Então, o que me resta é contar as coisas de uma forma um tanto quanto diferente.
Confesso que tenho preconceito às idéias externas. Que meus ouvidos são preparados pra não vibrar ar, não alterar o potencial dos meus neurônios, enfim, não transmitir o som para dentro da minha caixa lacrada. Desprezo até que me provem o contrário. Minha maior virtude é saber reconhecer isso. Mas tenho explicações. E é disso que eu quero falar.
A menina está feliz. Penteia os cabelos longos, ainda recordando o final do Big Brother, questionando-se a injustiça do público em eleger tal ganhador. Logo, o frescor da manhã invade as fossas nasais, purificando o cérebro, e formando um vácuo entre os caminhos neurais. Jorra adrenalina, os pulsos esfriam, a barriga faz cócegas internas, o rosto fica rosado. É o Joãozinho! Ontem, ele estava de jeans, camisa Levi's, perfume boticário. Desfilava num carro que parecia conjunto harmonioso com aquele sorriso branco, enfileirado. "Ai que lindo!", e veio também a endorfina, contaminando os neurônios que ainda estavam esperando utilização.
Pega ônibus, conta pra amiga, o ônibus todo passa a conhecer Joãozinho.
Chega na faculdade. Aluna exemplar, toda a matéria estudada, todos os exercícios prontos, toda a disposição no meio daquele resto de adrenalina. Conhecimento empírico intacto, o cérebro como simples instrumento de memória, como sanguessuga que parasita, engole tudo sem filtrar nada. Vai na biblioteca, namora livros dos autores mais demodês das ciências, come palavras, come conceitos, enquanto o próprio intelecto sofre autofagia, digerindo a si próprio, desesperado pelo vácuo ainda deixado pela manhã. A memória trabalha, o pensamento, não.
Chega em casa. Está cheia de pensar! Estruturas, leis, composições, teorias, que confusão, como é complicado ser inteligente!
Encosta a cabeça no travesseiro. Repassa mentalmente todo o ninho empírico que adquiriu durante o dia. E entre uma cadeia de carbono e outra, vem aquela adrenalina, a lembrança do Joãozinho. Dorme. Amanhece. Nada mudou.

Perdoem-me. Mas é assim que vivem. É assim que eu vejo as pessoas todos os dias, alienadas em chupar conceitos, vomitar conhecimento, inibir inteligência. Assim é fácil ter a pele bonita, o sorriso constante, a fadiga distante. O corpo livre de agentes que intoxicam (o verdadeiro pensar), mas também, escravo do consenso.
O que eu quero dizer é que desprezo essa forma de ensinar, de aprender, de viver. Passamos a ser robôs, fantasmas que não questionam, não criticam, não pensam. O verdadeiro conhecimento está na própria massa cefálica, no emprego que damos a ela. Conhecimento não tem nada a ver com inteligência. Estou cheia de ver exercício de memória, e emburrecimento de consciência.
Somos humanos, é saudável qualquer tipo de futilidade. É essencial decorar livros e conceitos. Mas há muito mais que isso. É importante saber. O mais importante, é ter sabedoria.

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