terça-feira, janeiro 09, 2007

Ser humano

No dia em que eu for enfim organismo, pra onde vão as flores que desenterraram o meu peito? Onde adormecerão as idéias, iluminação minha, que mal contei ao mundo?
Plante árvores. Escreva livros. Na verdade há formas de ser imortal. Tem gente que é gente e não existe. Tem gente que não é gente e compreende a existência. Confuso entender que para nós liberdade é a razão e sentimentos, e para os bichos, o instinto. Estes, pintam a aquarela da vida. Nós, borramos.
No dia em que eu for cálcio em rochas, pra onde vão as minhas verdades, cada partícula de sonho que libertei na inspiração?
Os bichos são pra virar nitrogênio. A planta fixa, o boi come, nós comemos o boi. Os bichos servem pra dar continuidade à vida. Nós servimos pra manter a vida. Pra virar nitrogênio, já há muitos bichos, de diversos sabores, gostos. Os decompositores têm alimento em excesso. Assim o mundo vai bem, obrigada.
Mas pra manter , pra manter há poucos.
Muitos são os que querem sonhos, razão, sentimentos, idéias, tudo em barras de ouro. São muitos os que querem solidificar o eterno em riqueza mesquinha.
Pra onde vai a alma que não partence à minha consciência? Esse suspiro, que engorda a respiração, que por fim me torna humana entre bichos?
Sou bicho, posso ir e vir, nascer e morrer.
Sou humana, posso amar e pensar, escolher e viver.
Posso morrer. Mas antes de cerrar as pálpebras e ver o céu em salmão, me tornarei real. Deixarei minha alma no mundo, vagando com as minhas obras, os meus sentimentos, a minha verdade. E quem sabe, a iluminação que um dia eu hei de ganhar se fixe em outra alma viva.
Assim, e só nesse dia, deixarei de ser bicho.
Me tornarei humana.

3 comentários:

Beatrix Miranda disse...

costumava ter uma visão muito melancólica de todo esse ciclo. era algo desmotivante pensar que tudo o que sou hoje algum dia será reduzido a algumas moléculas de carbono e nitrogênio (e todo o resto) espalhados pelo mundo. e que diferença realmente terei feito? qual terá sido a minha marca, se é que deixarei alguma?
há várias maneiras de morrer-se, assim como há também de ser-se eterno. deixei de ter a visão melancólica quando apercebi-me que a estagnação é que é a morte em vida, a verdadeira morte.


não sei se já ouviste falar da capela dos ossos, em évora, portugal. é um dos lugares que mais reflectem a insignificância do que somos. ao percorrer a pequena nave, senti-me mais uma das milhares de ossadas que compõem as paredes, os pilares e os detalhes arquitectónicos. sou mera pedra de construção. e, fixado numa das paredes, há um poema em que lê-se o seguinte:

aonde vais, caminhante, accelerado?
pára... não prosigas mais avante,
negócio, não tens mais importante
do que este à tua vista apresentado.

recorda quantos desta vida tem passado,
reflecte em que terás fim similhante
que para meditar causa he bastante
terem todos os mais nisto parado.

pondera, que influido d'essa sorte
entre negociações do mundo tantas
tão pouco consideras na da morte.

porém, se os olhos aqui levantas,
pára... porque em negócio deste porte,
quanto mais tu parares, mais adiantas.




e foi uma das coisas em relação à efemeridade da vida que mais me chocou. fiquei praí 2h sentada em frente ao altar, sem dizer nada, só a sentir a atmosfera. e creio que saí de lá mais humana.

Fer =) disse...

Eeeeeeeeei estou com blog também... me visita lá, nem que vc for a única a comentar! pra mim já tá de bom tamanho ;D www.almalgoz.blogspot.com

Ei, é a Fer hahaha esse nick aí é uma pira minha... essa palavra significa 'o carrasco que existe em mim'

Anônimo disse...

manu, eu nao li tua pira, eu assumo!! ashiudsahfdsa mas vamo se ve antes de eu vaza pra curita!! isso eh logo...
;*****