Doente. Mas não hipocondríaca.
Dormente. Mas não fraca.
Cansada. Mas não desistente.
Não um andróide.
Não um andróide.
Não um andróide.
Os caminhos levam pra dança das auréolas celestiais, contrapondo-se aos pés, que sentem os grãos da terra um a um. A alma flutua, a a matéria preenche espaço.
Mas quem diria que, na festa dos mortais, seria a minha vez de empilhar o ritmo?
Se estivesse hipocondríaca, as pílulas dissolveriam com o ar de cima.
Se estivesse fraca, não teria forças pra flutuar a minha alma.
Se desistisse, aí sim, se desistisse meus pés sentiriam o vento gélido e a alma, a umidade da terra.
Talvez uma mola comprimida que espera pra volumizar-se.
E enquanto está quietinha, pequenininha, ouvindo o barulho do próprio potencial elástico, é a hora que vale mais sua existência. Porque quando lançada ao mundo, transformará o que guarda na própria essência em movimentos visíveis, uma cinética efêmera.
Em forma de grão, não germinamos na estação que nos determinam. Em forma de mudas, temos que fixar-nos na terra pela própria manutenção da existência. Os grãos podem voar, os pequenininhos grãos flutuam por cá e por lá. As mudas ficam na mesma plantação, porque um dia foi germinada com o sol artificial da estufa.
Talvez a diminuta forma não seja sinônimo de carência de personalidade.
Ninguém sabe se o grão do feijãozinho está pronto pra nascer se não existisse as cores. E se me permite fazer uso figurativo do camaleão, as cores de nada servem para os olhos dos outros. As cores podem determinar a germinação da vida e podem acusar a hora de partir.
A palidez e o róseo.
O cinzento e o vivo.
Mas nunca o preto e o branco. O preto não é mais preto do que o branco, tão pouco o branco é mais branco que o preto. O contraste é um conjunto, um conjunto que impede o discernimento.
Relances cinzas, beirando ao preto, beirando ao branco, nada informam, nada solucionam.
O camaleão sabe a cor que deve expressar. Mas de nada adianta tentar pré-conceituar, porque a folha que contrastará com ele e permitirá o mimetismo ora pode estar preta, ora pode estar branca, talvez ambas, e se na primavera, pode estar multicolor. A vida então seria um jogo de vaivéns do xadrês, em que as peças movem-se , alternando entre os quadrados, do preto ao branco, como se esse quadrado fosse construído pelas nossas mãos e tudo fosse determiado. Como se fosse possível prever a próxima jogada, a próxima cor, e sacrificar peças pra jamais estar no pardo. É tudo tão diferente.
O que eu quero dizer é que achamos que talvez a essência esteja nas cores, porque é a expressão externa da vida, ou da morte, do início e do fim.
Mas de nada adianta, porque o colorido brilha ou cinzenta-se de acordo com expressão da alma de quem vê, de quem sente. A essência não é prejulgada, simplesmente porque cada garganta, cada olho e peito tem suas peculiaridades. Cada riso, cada lágrima, carregam em si forças e manifestações relativas, únicas.
A verdade das coisas é indecifrável.
Para tal, 'conheça-te a si mesmo' - a velha frase do sábio.
Pois só assim haverá discernimento entre um dia pardo e um dia intenso. Entre a noite enluarada, e a noite escura.
De um modo geral, convenhamos, só assim haverá discernimento entre a vida e a existência.
Nunca um andróide.
A loucura é a expressão dos vivos.
quarta-feira, julho 05, 2006
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- F., Manoela
- Uma vírgula entre duas frases. O ponto é o limite que eu ultrapasso [...] Nasci para, incansavelmente, complementar o que já concluí.
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